Lola ao poder!

lola quer poder... roer a rolha do rato do rei da rússia!

quarta-feira, outubro 19, 2005

Quando é verdade que se está louco?
Não poderá uma loucura ser mesmo o Posto de onde finalmente se vê?
O estado de falsa insanidade mental é deplorável. Querer ser louco pode também ser um sinal de loucura, pois as frustrações que daí surgem hipoteticamente levarão à demência, à doce e agradável demência, à Verdade.
Quando se atinge a ambicionada loucura encontra-se a pureza do espírito, alheio às futilidades que o rodeia. A alma torna-se um palco, uma peça de teatro criticada pela indiferença. O espírito é, assim, o observador perfeito da realidade, do que está além da aparência, atrás do olhar, felino ou não, oco ou não.
Não saber que se está louco sendo, é a alma de tudo que terá de ser elogiado, o elogio demente. O louco vê as pessoas como um cego as ouve. As pessoas gostariam de ser dementes, mas como não o são, como não se aceitam assim (tal como a sociedade) condenam tal heresia, remetendo-os à vida privada de felicidade social. Antigamente um esquizofrénico era queimado vivo numa fogueira pela Inquisição por se achar que estava possuído. Apesar de ser uma loucura mais aparente e física, confirma a não aceitação da sociedade do que é diferente. Deixem-nos andar com um olho de vidro!

terça-feira, outubro 04, 2005

PH Neutro
Esfreguei pedra-pomes no meu joelho até ficar bonito. Pelo menos na minha opinião um joelho completamente chacinado, esquartejado e ressequido é sinónimo de beleza, ou deveria ter espalhado um qualquer creme hidratante para que ficasse igual à maioria dos joelhos? Certamente que o meu joelho se falasse quereria ser diferente para poder engatar o meu outro chalante joelho, este sim, mais feminino e hidratado, mais esbelto e elegante, no entanto com uma queda para joelhos anárquicos, pois sempre defendeu que joelho que é joelho deve cheirar a suor e a sangue à mistura.
Devidamente colocada a joelheira, saí à rua para passear o meu horrendo cão cheio de sarna, pois assim ninguém me chatearia, julgava eu. Mas esta tarde até o meu animalzinho de estimação parecia ter alma. Eu que só conseguia ver a minha alma tendo a certeza da inexistência de tal coisa nas outras pessoas, ou animais, ou pedras, ou na água ou mesmo nas cinzas orgulhosas dum fogo florestal; via agora nada mais que o espírito de tudo à minha volta. Riam-se de mim fogosamente, atirando pedras rumo aos meus olhos arrogantes e cínicos. O cão sabujo mordia ferozmente o meu joelho fêmea, e eu nada conseguia fazer para o impedir pois os ramos de uma árvore que vivia ali por perto seguravam altivamente todos os meus membros.
Não me recordo de mais nada, só de acordar com os dois joelhos calejados e sangrentos, lacrimejando dor líquida, e finalmente todo eu transbordava uma aura imutável e lúgubre. Conto aqui o dia em que me inseri na sociedade de comuns mortais, sem saber que também o era.
Amargura, desolação, padecimento e sofrimento, tudo conceitos que conhecia devido às minhas excursões ao dicionário, enquanto lia Romances e cogitações de grandes e geniais autores e pensadores como Schopenhauer e Pessoa. Agora, aliava tais conceitos à experiência, ao sentimento sentido, por assim dizer. Encontrava-me nu, em posição fetal, constantemente a ser pisado por pés maiores que eu, como se fosse merda de cão rafeiro. Estranhamente lacrimejava uma espécie de água salgada, algo novo para mim.
Sempre sonhei com um Paraíso desumano, sem a presença de qualquer bicho Homem. Porém, agora nada havia a fazer. Até ao fim da eternidade os ramos das árvores vizinhas sugar-me-ão até me tornar em mais uma máquina manipulada pela oferta de liberdade precoce e utópica. Sou mais uma ilusão para a Ilusão.